domingo, 25 de novembro de 2012

'O povo é o senhor do meu destino político'



Em entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno, o prefeito de São Luís, João Castelo (PSDB), faz um balanço de sua administração e toca em temas polêmicos, como o resultado das eleições municipais de 2012 e a expectativa com relação ao mandato de Edivaldo Holanda Júnior (PTC). Castelo faz um paralelo entre as funções de governador e prefeito, dois cargos por ele exercidos, fala de decepções ao longo do atual mandato e critica aqueles que apenas 'se beneficiaram de cargos e da estrutura de poder' da prefeitura. 'Eram pessoas que ali estavam perto de mim conspirando, minando o meu trabalho', desabafa. O prefeito explica que, apesar dos dissabores da caminhada, não coleciona mágoas ou ressentimentos.
Castelo faz um alerta ao futuro prefeito para que questões partidárias não interfiram na prestação de serviços à comunidade. 'Apesar de haver um grupo tão heterogêneo de interesse pelo poder em torno do futuro prefeito, o povo não pode ser sacrificado pelas disputas internas', ponderou.
Segundo Castelo, alguém que sai de uma eleição com mais de 220 mil votos não pode se achar um derrotado. Por fim, o prefeito tucano avisa que, de janeiro em diante, será um ex-prefeito vigilante, atento, comprometido ainda mais com as causas da cidade e conhecedor dos problemas da comunidade. 'Desse compromisso eu não posso me esquivar'. E que, por isso, 'não vestirá o pijama da indiferença'. Confira.
JP - Qual avaliação o senhor faz do seu mandato de prefeito?
João Castelo - São Luís mudou muito nos últimos 10 anos. É uma outra cidade, com uma população de mais de um milhão de habitantes. Iniciei o meu mandato com o município mergulhado em problemas graves que se acumularam nas últimas duas décadas, especialmente na área de infraestrutura urbana. Jamais outro prefeito ousou mexer em situações crônicas, que há muito tempo atormentavam a vida das pessoas, como os grandes canais e drenagens profundas em ruas e avenidas intransitáveis. E por que não trabalhavam nessas áreas? Porque são obras que pouco aparecem e não rendem votos. Mas essas obras ficam, e isso é o mais importante para o gestor. Fizemos muitas obras de infraestrutura, construção de grandes avenidas interbairros e recuperação da malha viária. Acredito que avançamos muito em quatro anos, e não fizemos obras apenas no último ano de governo, como alguns afirmaram maldosamente na campanha eleitoral. A verdade é que fizemos muitas obras e projetos sociais ao longo de quatro anos. Claro que há sempre uma expectativa maior da população, principalmente numa cidade carente ainda de muitos benefícios. Mas tenho a consciência do dever cumprido.
JP - É mais difícil ser prefeito que governador, para o senhor que exerceu os dois cargos?
JC - O governador de Estado não está tão próximo dos problemas do cidadão, das reais necessidades do cotidiano, como está o prefeito. O governador tem a função mais institucional que operacional, não há uma cobrança efetiva e constante de suas ações na comunidade. Ele lida com o estado todo e não é cobrado pelo asfalto, pela limpeza do bairro, pelo capim que toma conta da praça. Nem por isso suas responsabilidades são menores que as do prefeito. São situações absolutamente distintas. Acontece que o prefeito e os vereadores são interlocutores diretos do cidadão comum, que cobra respostas rápidas e soluções para problemas que afetam a porta da casa dele. O cargo de prefeito é, sobretudo, desafiador. Tenho a humildade de reconhecer as dificuldades da missão, mas concluo o meu mandato de cabeça erguida, com a convicção de que fiz o melhor que pude. Da mesma forma que entrei, saio da Prefeitura de mãos limpas.
JP - Por que algumas obras não foram concluídas no seu mandato?
JC - Nunca se fez tanta obra em São Luís como nesses últimos quatro anos. Basta uma rápida retrospectiva, uma comparação. Claro que não houve tempo suficiente para se concluir tudo aquilo que nos propusemos a fazer. A cidade é outra. O prefeito que chega não vai encontrar os mesmos problemas que eu encontrei. As chuvas já não serão o grande problema da administração municipal porque as principais avenidas foram todas recuperadas com asfalto de qualidade, o CBUQ, usado hoje nas cidades mais desenvolvidas do mundo. O que eu não pude concluir, como parte do trilho da primeira linha do VLT e o Grande Hospital de Urgência e Emergência, depende agora do senso de responsabilidade que o futuro gestor deve ter com a cidade. Há um módulo do VLT comprado, pago e parte da linha já está feita. Tudo isso com recursos da Prefeitura. E vou continuar a obra até o dia 31 de dezembro. Com relação ao hospital, o terreno já reincorporado ao patrimônio da Prefeitura, em área ampla e estratégica, o projeto é arrojado e toda a terraplanagem já foi feita. A obra não pode parar, porque é de absoluto interesse e necessidade da população.
JP - O senhor acha que o prefeito eleito vai continuar as suas obras que não foram concluídas?
JC - Não acredito naquelas velhas práticas políticas do prefeito que ignora as obras iniciadas pelo antecessor. Eu, por exemplo, dei continuidade aos projetos iniciados pelo prefeito Tadeu Palácio. Meu compromisso com a cidade é tão forte que mesmo agora, após o resultado desfavorável da eleição, continuo trabalhando dia e noite na Prefeitura e vou entregar novas obras até o último dia do meu mandato.
JP - A que o senhor atribui a sua derrota na eleição de outubro?
JC - Toda eleição tem as suas peculiaridades. A eleição de 2012 foi marcada pelo discurso da novidade. E, talvez pela força do trabalho de desconstrução de imagem do meu nome e do trabalho que realizei em São Luís, esse discurso tenha prevalecido, embora sem muita consistência. O eleitor foi forçado a comprar a ideia de mudança. Não porque ele acreditava piamente no produto da mudança. Ao longo de quatro anos a minha administração foi massacrada deliberadamente por uma mídia raivosa, fui perseguido dia após dia no meu trabalho da Prefeitura e nos projetos que busquei aprovar em Brasília. Criou-se a falsa ideia de que eu nada fiz pela cidade, de que São Luís virou um caos, de que não existia obra alguma no município, de que o VLT era alugado. O povo foi induzido a acreditar nessas lorotas. Fora isso, lutei contra todos os candidatos no primeiro turno, dispondo de pouco mais de três minutos de televisão, além de ter sido covardemente atacado por um 'laranja' profissional escalado pelo meu adversário. Mas não me considero derrotado. Alguém que sai de uma eleição com mais de 220 mil votos não pode se achar um derrotado.
JP - Qual a lição que ficou dessa eleição?
JC - A cada eleição você vai conhecendo menos o perfil do eleitor de hoje. As eleições são decididas no calor da hora da votação. Assim as coisas acontecem atualmente, aqui e em qualquer cidade do Brasil. E o eleitor é soberano na urna. Veja que no primeiro turno as pesquisas apontavam uma vantagem minha sobre o candidato Edivaldo Holanda Júnior. Aquilo era real, e nos dois dias que antecederam a eleição essa realidade mudou. Não sei o que de fato ocorreu. Da mesma forma aconteceu no segundo turno: havia no começo da disputa uma diferença a favor de Edivaldo de mais de 20 pontos nas pesquisas. Fomos diminuindo gradativamente essa diferença até as vésperas da eleição, os números de todas as pesquisas apontavam nessa direção. Acontece que num dado momento essa tendência estancou. Também não se sabe por qual motivo.
JP - Alguma decepção ao longo desses quatro anos de mandato?
JC - As decepções são naturais para quem segue a carreira política. Como prefeito, posso dizer que me decepcionei muito com pessoas que ali estavam perto de mim conspirando, minando o meu trabalho, ao mesmo tempo em que se beneficiavam de cargos e da estrutura de poder. Mas essas pessoas passam. E, para mim, o que fica é a gratidão a uma equipe que está comigo até agora, pessoas honradas e que lutaram com bravura na Prefeitura para servir ao povo de São Luís. No mais, não há mágoas ou ressentimentos.
JP - O senhor faria algo diferente no segundo mandato?
JC - Claro que sim. O primeiro mandato serve de amadurecimento das táticas e estratégias de trabalho que melhor se adequam à realidade do município. Serve para se fazer ajuste, corrigir os caminhos. O segundo mandato é só de aprimoramento, é o fechamento de um ciclo de obras e trabalho que não se consegue concluir em quatro anos. Veja, por exemplo, o caso do Grande Corredor de Transporte. O projeto foi maturado, apresentado com sucesso ao governo da Presidenta Dilma Rousseff e finalmente aprovado. Agora chegou o momento, no início de 2013, de colocá-lo em prática. Não é uma coisa simples, que se faz da noite pro dia. Precisou de tempo, de muitas viagens, de conhecimento da engenharia urbana, de planejamento e convencimento técnico. Os recursos já estão assegurados pelo governo federal e São Luís vai ganhar uma de suas maiores obras da história.
JP - Há quem diga que o senhor não iria pagar o décimo terceiro do funcionalismo porque a Prefeitura não teria mais dinheiro.
JC - Alguns esquecem que a eleição já acabou. Não há mais palanque para brincadeiras. É hora de trabalhar com seriedade e responsabilidade. Em quatro anos de mandato, paguei em dia o funcionalismo, dentro do mês de trabalho. Sempre respeitei e valorizei o funcionário público, todos que me conhecem sabem disso. Não seria agora, no apagar das luzes da minha administração, que iria manchar a minha biografia. Não demiti ninguém, mas temo pelo futuro dessa gente trabalhadora que tanto precisa do salário da Prefeitura.
JP - Qual a sua expectativa com relação ao futuro prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior?
JC - Espero que São Luís continue sendo bem tratada. A cidade hoje é outra, como disse. Está mais organizada. Os grandes problemas vão persistir. O trânsito hoje é o maior desafio, assim como os graves problemas de saneamento e abastecimento de água. O novo prefeito vai encontrar uma cidade melhor, mais organizada, com projetos importantes e recursos captados em fontes nacionais e internacionais. Espero que as questões partidárias não interfiram na prestação de serviços à comunidade. Apesar de haver um grupo tão heterogêneo de interesse pelo poder em torno do futuro prefeito, o povo não pode ser sacrificado pelas disputas internas. Faço votos para que ele cumpra o que prometeu ao eleitor, para que este não seja simplesmente enganado. O povo de São Luís assim deseja e vai cobrar as promessas de campanha. Uma delas, por exemplo, é a de que o futuro prefeito, já no primeiro dia de mandato, dará prosseguimento à licitação para o sistema de transporte coletivo da cidade. Desde abril encaminhei o projeto de licitação à Câmara de Vereadores. Vamos acompanhar.
JP - Qual o principal legado que o senhor deixa para a cidade?
JC - Não há um projeto isolado que considero como o mais importante que deixo para São Luís. Mas reconheço que a população não vai esquecer tão cedo o fardamento escolar completo e o leite distribuído para mais de 100 mil alunos da rede municipal de ensino. Não vai esquecer também do peixe vendido a preço simbólico pela Prefeitura. Vai lembrar por muito tempo das boas ações da Blitz Urbana, que foram destaque no noticiário nacional. Vai lembrar das avenidas Santos Dumont, do Caratatiua, do Parque Vitória, Mário Andreazza, Santo Antônio e do prolongamento da Litorânea. Não vai esquecer dos canais, do Teatro da Cidade. Enfim, acho que fica muita coisa para que a população não esqueça que por aqui passou um prefeito que trabalha.
JP - Qual o futuro político de João Castelo?
JC - Em política não existe futuro. O político faz agora. O caminho do político quem decide é o povo, com as bênçãos de Deus. Já servi muito ao Maranhão e agora ainda mais a São Luís. O povo é o senhor do meu destino político. Não posso virar as costas para ele, que tudo me deu na vida pública. Já me lançaram candidato a tudo em 2014. Por enquanto, não sou candidato a nada. Serei, sim, daqui pra frente o ex-prefeito vigilante, atento, comprometido com as causas da cidade, conhecedor ainda mais dos problemas da comunidade. Desse compromisso eu não posso me esquivar. Dele não abro mão. Não vestirei o pijama da indiferença.

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