domingo, 27 de janeiro de 2013

'Ainda quero ser prefeito', diz Russomanno



Em sua primeira disputa à prefeitura, ele contrariou pesquisas e análises. Ao assumir a liderança da disputa, o "azarão" tornou-se alvo dos adversários. E sucumbiu.
No dia da derrota, 7 de outubro, Celso Russomanno (PRB), 56, atribuiu a queda à falta de tempo de propaganda na TV e, dali em diante, recusou-se a falar sobre política. José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) foram ao segundo turno.

O jornalista ainda quer ser prefeito. Antes, disputará a eleição de 2014. "Agora, se vou ao Senado, ao governo ou a deputado, vai sair da decisão partidária." Russomanno viajará pelo país ao lado do presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, para "fazer bons candidatos". Ambos aparecerão na propaganda do partido na TV no próximo dia 31 em uma "mensagem institucional da legenda".
O projeto é aumentar a bancada na Câmara dos Deputados em 2014 e conquistar mais espaço de propaganda partidária. "A gente sentiu a dificuldade do partido sem tempo de TV." Por que quer substituir Haddad futuramente? "Quero fazer o diferente."

Confira a íntegra da entrevista:

sãopaulo - Por que o senhor manteve o silêncio depois da eleição?
Celso Russomanno - Passou a eleição e eu tinha de tocar a minha vida, meus negócios. Estou com uma filha de 90 dias em casa. Durante a campanha, eu me dediquei aos afazeres da campanha e não dei atenção para a minha família. Me recolhi por isso.

Qual avaliação o senhor faz da sua campanha para a prefeitura?
Foi extremamente válida. Cresci com o eleitorado. Vejo que as pessoas me encontram na rua e dizem: "Olha, não desiste não". Conseguimos colocar o PRB como partido conhecido nacionalmente. Estávamos numa disputa com os maiores partidos do país.

Achou que poderia, de fato, ganhar a eleição?
Na verdade, faltou para a gente tempo de televisão. Por isso, pretendemos fazer na próxima eleição uma bancada grande de deputados federais. Esse é o projeto do PRB. Quanto menos tempo se tem, menos se consegue mostrar. No final, fui vítima... Fiquei nos últimos 20 dias sendo bombardeado de todos os lados. Como com dois minutos de televisão dá para se defender? Uma coisa que pegou no final foi a divulgação do PT de que eu aumentaria a passagem de ônibus. Eu tinha dito que quem andasse menos pagaria menos [que os R$ 3].

Essa proposta foi o principal erro da campanha?
Não houve erro. O que acontece é que eles se aproveitaram disso. Começaram a apertar e, como tinham muito mais dinheiro do que a gente, contrataram um exército de pessoas para entrar nos ônibus e falar mal a meu respeito.

Em que momento percebeu que não passaria para o segundo turno?
No dia a dia da campanha, não dava tempo nem de pensar. Sabia que mais cedo ou mais tarde os ataques viriam. O que me deixa chateado é você justificar uma coisa que não falou ou não fez. Durante a campanha, não ataquei ninguém, defendi as ideias que tínhamos.

Se tivesse passado para o segundo turno, acha que teria sido eleito?
Isso depende da vontade da população. A gente cresceu demais, estou muito feliz. Entrei numa campanha em que todo mundo achava que eu não iria à esquina e fiz uma massa de eleitores. Hoje, os partidos respeitam a gente.

Por que ficou neutro no 2º turno?
É a política que nós pretendemos demonstrar. No dia anterior, todo mundo falava mal a meu respeito. E, no dia seguinte, todo mundo queria o meu apoio. Não estávamos atrás de cargos.

Em quem votou no segundo turno?
Isso é segredo de Estado.

No ano que vem, será candidato a governador?
Vou ser candidato. Posso garantir isso. Agora, se vou ao Senado, ao governo ou a deputado, sairá da decisão partidária.

Hoje, caminharia com o PSDB ou com o PT para o governo do Estado?
As alianças são de momento. Muitas vezes, os partidos têm uma aliança nacional que não está nas mesmas condições nos Estados e difere nos municípios.

Aceitaria ser vice na corrida para o governo do Estado?
É muito cedo para falar agora. Vamos deixar aproximar mais as eleições e ver as pesquisas de intenção de voto. Já fizemos algumas coisas no PRB, temos algumas filiações que estamos fazendo numa série de Estados, como a do Marcos Cintra [ex-PSD], que vem para presidir o partido em São Paulo.

O que acha do começo da gestão de Fernando Haddad?
Tenho acompanhado à distância. Tenho me dedicado mais ao meu trabalho como jornalista. Mas espero que ele melhore os serviços públicos.

A mudança do partido inclui a tentativa de se desvincular da Igreja Universal?
Durante a campanha, falei bastante sobre isso. Fico pensando de que forma. Há membros da Universal? Há. Há da Católica? Há. Da Assembleia de Deus, Presbiteriana? Há de todas. É o partido mais democrático que tem.

Mas essa vinculação não atrapalhou na última eleição?
Não existe vinculação. O fundador do PRB, o José de Alencar [morto em 2011], era católico fervoroso. Sou católico. Quiseram plantar na campanha que eu não era católico. Foram falar mal de mim para o arcebispo de São Paulo [dom Odilo Scherer]. O PRB é um partido aberto para todo mundo. Quem quiser vir, será bem-vindo. Só há a exigência de que seja correto e ético.

Não faltaram boas propostas também?
As propostas eram ótimas, maravilhosas. Na verdade, a proposta principal era o foco em serviço de qualidade. Qual serviço público é bom? Conhece algum que funcione com qualidade? Aponte um só. Não tem.

O PRB tem de mudar. E o senhor?
Acho que fiz o melhor. Faço política para ajudar as pessoas. Vivo do meu trabalho. Sempre usei o dinheiro que ganhei como deputado para manter atendimento gratuito no Instituto Nacional de Defesa do Consumidor. Até isso, não podia [durante a última eleição]. "Ah, está comprando voto". É ridículo um negócio desse.

A exposição na TV pode ajudá-lo em 2014, não?
Deixe eu falar: faço televisão porque gosto. Só mudei a forma de fazer televisão após a morte da minha mulher. Voto é resultado do trabalho. Estou fazendo defesa do consumidor desde 1990.

O senhor ainda quer ser prefeito de São Paulo?
Quero. Quero fazer o diferente. O que nunca ninguém fez e não vai ser feito agora. Essa cultura que tenho, que vem da especialidade que é o direito do consumidor, eles não têm. Vamos à luta, não podemos desistir


Elvis Pereira do Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário